Violinos na madrugada. De onde vêm? Passos apressados pela chuva em busca dos violinos. De onde vêm? Ao longe dois senhores muito distintos de terno com seus violinos, junta-se agora um acordeonista, com um terno mais claro. Estação de metrô, tão vazia... e aqueles senhores, violinos e acordeão. Não há caixinha ou chapéu esperando moedas, e eles não parecem precisar. Sorrisos nos olhos e compenetração de quem toca para uma enorme platéia. E não era mesmo? Toda a cidade ouvia os violinos que me acordaram e o acordeão que não me deixaria dormir mais.
Sento-me, compro um café, observo e ouço. Não me arrisco a trocar palavras com aqueles senhores, não. A emoção nos olhos. Meus e deles. Já são o suficiente. Três garotos que moram lá embaixo dançam ao som da música. Me olham e sorriem tímidos, eu respondo com meu sorriso mais rasgado. O coração está tão cheio de alegria que insiste em transbordar. Acordeão, violinos, garotos a dançar, sorrisos, felicidade.
Minhas madrugadas nunca foram as mesmas. Nunca fui mais feliz. Os senhores e eu acabamos por ter um relacionamento sério de dependência, a melhor dependência que eu poderia imaginar. Eles precisavam me acordar, e o acordeão só começava quando eu descia e sentava-me para ouvi-los, eu só vivia feliz se acordasse e descesse para ouvi-los e tomar café. Doente ou triste, não sabia mais viver sem eles.
Triste foi o dia que o acordeão não apareceu nem seu dono com o terno mais claro. E menos de uma semana depois, os violinos se silenciaram. Minhas madrugadas não fazem sentido, meu café não tem o mesmo sabor, e os garotos mudaram o sorriso.

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